terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Cânon do Novo Testamento

A historia do cânon do Novo Testamento difere da do Antigo em vários aspectos. Em primeiro lugar, visto que o cristianismo foi desde o começo religião internacional, não havia comunidade profética fechada que recebesse os livros inspirados e os coligisse em determinado luar. Faziam-se coleções aqui e ali, que se iam completando, logo no início da igreja; não há notícia, todavia, da existência oficial de uma entidade que controlasse os escritos inspirados. Por isso, o processo mediante o qual todos os escritos apostólicos se tornassem universalmente aceitos levou muitos séculos. Felizmente, dada a disponibilidade de testos, há mais manuscritos do cânon do Novo Testamento que do Antigo.

Outra diferença ente a história do cânon do Antigo Testamento, em comparação com a do Novo, é que a partir do momento em que as discussões resultaram em reconhecimento dos 27 livros canônicos do Novo Testamento, não mais houve movimentos dentro do Cristianismo no sentido de acrescentar ou eliminar livros. O cânon do NT encontrou acordo geral no seio da Igreja Universal.
A igreja primitiva tinha necessidade internas e externas que exigiam o reconhecimento dos livros canônicos. Internamente havia a necessidade de saber que livros deveriam ser lidos nas igrejas, de acordo com a prática prescrita pelos apóstolos para a igreja do NT (1Ts 5:27). Do lado de fora da igreja esta a necessidade de saber que livros deveriam ser traduzidos para as línguas estrangeiras das pessoas convertidas. Sem uma lista dos livros dessa tarefa. A combinação dessas forças exerceu pressão sobre os primeiros pais da igreja para produzirem uma lista oficial dos livros canônicos.
O Novo Testamento havia sido escrito durante a última metade do século I. a maior parte dos livros havia sido escrita para as igrejas locais (maior parte das cartas do apóstolo Paulo), e alguns foram dirigidos a pessoas em particular (Filemon, 2 e 3 João). Outros livros tinham em mira, auditórios mais amplos, na Ásia Oriental (1Pedro), na Ásia Ocidental (Apocalipse) e até mesmo na Europa (Romanos).
É provável que algumas dessas cartas tivessem origem e destinatários, é compreensível que nem todas as igrejas haveriam de possuir, de imediato, cópias de todos os livros inspirados do Novo Testamento. Acrescentam-se os problemas de comunicação e de transporte, e fica mais fácil ver que seria preciso algum tempo até que houvesse um reconhecimento geral de todos os 27 livros do cânon do Novo Testamento. Apesar de tão grandes dificuldades, a igreja primitiva começou de imediato a coligir todos os escritos apostólicos que pudessem autenticar.

Desde o início havia escritos falsos, não apostólicos e, portanto, não fidedignos em circulação. Por causa de alguns desses relatos fantasiosos sobre a vida de Cristo, Lucas, o companheiro de Paulo, assumiu o compromisso de escrever seu evangelho, dizendo: ”Tendo muito empreendido uma narração dos fatos que entre nós se cumpriram... Pareceu-me também conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que tenhas plena certeza das coisas em que fostes ensinados” (Lc 1:1-4). O que se depreende do prólogo de Lucas é que, em seus dias, já havia alguns relatos inexatos em circulação a respeito da vida de Cristo.

Em suma, existem muitas evidências de que no seio da igreja do século I havia um processo seletivo em operação. Toda e qualquer palavra a respeito de Cristo, fosse oral, fosse escrita, era submetida ao ensino apostólico, dotado de toda autoridade. Se tal palavra ou obra não pudesse ser comprovada pelas testemunhas oculares, era rejeitada. Os apóstolos eram pessoas que podiam afirmar: “O que vimos e ouvimos isso vos anunciamos” (1João 1:3); era o incontestável tribunal de apelação. Essa fonte primordial de autoridade apostólica era o cânon, mediante o qual a primeira igreja escolher os escritos aos quais obedeceria, pois eram os ensinos apostólicos. Assim, o “Cânon” vivo das testemunhas oculares tornou-se critério mediante o qual os escritos canônicos primitivos vieram a ser reconhecidos, e o próprio Deus deu testemunho aos apóstolos.

Outro sinal de que o processo da canonização do Novo Testamento iniciou-se no século primeiro, foi à prática de leitura pública oficial dos livros apostólicos. Paulo havia ordenado aos tessalonicenses: “Pelo senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos” (1Ts 5:27). De modo semelhante, Timóteo foi instruído a apresentar a mensagem de Paulo às igrejas ao lado das Escrituras do Antigo Testamento. As leituras em público das palavras autorizadas de Deus era um Costume antigo, Moisés e Josué o praticaram. Josias pediu que se lesse a Bíblia em seus dias, e o mesmo fizeram Esdras e os levitas. A leitura das cartas apostólicas ás igrejas é uma continuação da longa tradição profética.
Já no Novo Testamento às igrejas estavam envolvidas num processo incipiente de canonização. Essa aceitação original de um livro, o qual era autorizadamente lido nas igrejas, teria importância crucial para o reconhecimento posterior de um livro canônico.

Já havia nos tempos do Novo Testamento algo parecido com uma declaração de cânon das Sagradas Escrituras, aprovada tacitamente, circulando pelas igrejas. De início nenhuma igreja detinha todas as cartas apostólicas, mas a coleção foi crescendo à medida que se faziam cópias autenticadas pela assinatura dos apóstolos ou de seus emissários. Não há dúvidas de que as primeiras cópias das Escrituras surgiram dessa prática de fazer que circulassem.
À medida que as igrejas foram crescendo, as necessidades de novas cópias foi-se tornando cada vez maior, pois mais e mais congregações desejavam ter sua compilação para as leituras regulares e para os estudos, ao lado das Escrituras do Antigo Testamento.

Assim, o processo de canonização desde o início da igreja estava em andamento. As primeiras igrejas foram exortadas a selecionar apenas os escritos apostólicos fidedignos. Desde que determinado livro fosse examinado e dado por autêntico, fosse pela assinatura, fosse pelo emissário apostólico, era lido na igreja e depois circulava entre os crentes de outras igrejas.
Desde o século V a igreja tem aceitado esses 27 livros com o cânon do Novo Testamento. Embora mais tarde houvesse objeções ao cânon do Antigo Testamento, a igreja em todos os seus principais ramos continua, até hoje, a reconhecer apenas esses 27 livros do Novo Testamento como apostólicos.
O processo de coligir os escritos apostólicos confiáveis iniciou-se nos tempos do Novo Testamento. No século II houve exame desses escritos mediante a citação da autoridade divina de cada um desses 27 livros do Novo Testamento. No Século III, as dúvidas e as objeções a respeito de determinados livros prosseguiram, culminando nas decisões dos pais da igreja e dos concílios influentes do século IV. A partir de então, ao longo dos séculos, a igreja vem sustentando a canonicidade desses 27 livros.

GEISLER, Norman e NIX, William. Introduão Bíblica, 5º Ed.; SÃO PAULO, Editora Vida, 2003

Em Deus, Isack Mariano

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